quinta-feira, 5 de maio de 2016

Canção de Inverno



Ainda nesta década de decadentes
A charrete atravessa a rua com galope.
E no meu quarto ainda sinto seu cheiro
Perfumes secretos, bosques de pinheiros.

Outrora mesmo tanto nos amamos.
Do outro lado da rua, um bonde avança.
O vento é frio e sufoca o sonho
Deixando somente vapores no ar.


                    II


Lembro teu corpo todo pálido
Quadro que meus olhos contemplavam
Vaga memória desse amor esquálido
Que teu cheiro não me deixa esquecer.

E como esquecer teu amor jocoso
Teu seio sagrado a me tocar
Forte razão que prende meu gozo
Nesta forte estação rigorosa.

                    III

Teu corpo feito de sombras e sonho
E feito todo como fosse feito a mim
E fortemente eu então suponho
Ver estrelas sobre teus cabelos.

E o inverno se faz frio e fogo
Chama que chispa sem cessar
Neblina, neve na paisagem
E teu corpo branco no meu anoitecer.

Filipe Didot


Nenhum comentário:

Postar um comentário